Terça-feira, 9 de Novembro de 2010

Álbum de Recordações

Campeões para a vida

 

Sábado, dia 6 de Novembro, na Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde em Carnide, Nuno Delgado partilhou com o nosso público”jovem”… de espírito a sua experiência de “campeão para a vida”. O tema era esse: “Campeões para a vida – um impulso para o sucesso na vida dos jovens de hoje”. Ouvimo-lo serenamente e com a atenção que ele merece, um jovem campeão de judo, calmo, sereno, com os seus objectivos bem definidos, organizado e cativante.

 

Portugal orgulhou-se de Nuno Delgado, no ano 2000, quando nos Jogos Olímpicos de Sidney subiu ao pódio, depois de realizar seis combates com vitórias frente a Thierry Vatrican, Francesco Lepre, Daniel Quelly, Kazem Sarikhani e, no combate decisivo pelo bronze, Alvaro Peseyro. Nuno subiu ao pódio por Portugal pois nasceu e vive em Portugal mas, como nos disse, é cabo-verdiano e sente-se bem cabo-verdiano embora com o coração dividido entre Portugal e Cabo Verde, como é compreensível. Quando lhe disse que eu tenho o meu coração dividido em três, por Cabo-Verde, Moçambique e Portugal ele acrescentou a sua parte de Espanha pois casou-se com uma cidadã espanhola. Mas Cabo Verde é o nosso maior amor. O cabo-verdiano é sempre cabo-verdiano, parte e volta sempre; não esquece a sua cultura, o seu chão, o seu céu, o seu mar, e Nuno é filho, neto e bisneto de cabo-verdianos. Todos os cabo-verdianos vibraram quando Nuno Delgado subiu ao pódio, brilhante de sorriso emocionante: por Portugal, mas cabo-verdiano di nôs. Vibraram igualmente quando ele desceu do avião em Santiago, terra dos pais, os milhares de patrícios que o aguardavam e fizeram-no sentir-se ainda mais cabo-verdiano quando seguiram em caravana para a cidade da Praia, em hiaces, carrinhas de caixa aberta, automóveis, motas e toda a espécie de transportes, como nos contou na amena conversa que ontem teve na nossa Associação, frente a uma plateia de jovens que o ouvia interessada e ansiosa por trocar as suas experiências com ele.

 

Nuno Delgado começou por nos dizer que lutadores somos todos, desde que nascemos, na luta que travámos para sair do aconchego do ventre das nossas mães. Esse o papel que temos de assumir, de que somos lutadores, temos o instinto de lutador. O insucesso acontece mas há que saber lidar com o insucesso: o desportista tem de saber lidar com o insucesso, manter o espírito grande, passar por sacrifícios, adversidades várias e ter grande capacidade para treinar, repetir e tentar sempre melhorar; quanto mais treino mais sorte terá na sua carreira desportiva.

Falando dos jovens de hoje Nuno exprimiu a sua pena de reconhecer que os nossos jovens não estão familiarizados com a adversidade pois a vida é-lhes facilitada e obtêm tudo que querem.

 

Se se quer ser campeão há que treinar, treinar, treinar…. (O campeão olímpico treina 10.000 horas). E isso não só para o desporto: é uma verdade para tudo, para a música, para a dança, para a pintura, para qualquer área que se escolha abraçar com gosto. Gosto - o primeiro degrau a erigir: saber o que gostamos de fazer: “isto é o que eu gosto de fazer – Judo”. O Judo para o Nuno foi amor à primeira vista.  

 

Nuno Delgado afirma-nos que todos somos campeões até provar o contrário e que todas as gerações têm potencial. Os mais velhos e mais experientes têm o dever de estimular os mais novos, dar-lhes um voto de confiança para terem sucesso. Existe entre os jovens falta de auto-confiança, mas têm potencial para ser algo na vida porque todo o jovem é um lutador, mesmo sem saber.

Aprendemos que o lutador tem de dominar a técnica do triângulo – SANKAKU.

 

Tendo motivação, auto - confiança e auto - estima conseguimos uma força sobrenatural, afirma-nos Nuno Delgado e temos de partilhar estas noções com os jovens. Sabendo isso de antemão chegamos lá, elevámo-nos.

Ensina-nos, “ensinar não”, corrigiu ele no início, quando o apresentei e disse que íamos ouvir serenamente e com gosto o que ele tinha a ensinar-nos. “Partilhar” a palavra que quis utilizar, que:

  1.º - temos que descobrir uma actividade

  2.º - temos que conseguir actuar numa situação em que tivermos um triângulo forte

  3.º - temos que construir um plano, com objectivos bem definidos

 

Exemplificando com a sua experiência de vida aconselha-nos a não pôr objectivos muito altos, pois é mais fácil subir um degrau a dar logo um grande salto, e ir subindo degrau a degrau.

O seu 1.º objectivo, no início, foi ser o melhor cinto branco e atingiu-o. Contente, ficou mais motivado e foi elevando os seus objectivos.

 

E como construir os objectivos? Aqui Nuno interagiu com a assistência, aliás o que foi fazendo ao longo de toda a conversa.

   1.º - tem de ser algo concreto

   2.º - algo mensurável

   3.º - algo atingível (não colocar metas muito elevadas)

   4.º - algo concretizável (há que ser-se realista)

   5.º - tem de se limitar o tempo (não pode ser inesgotável)

 

Adverte-nos sempre que o plano perfeito não garante o sucesso e que podemos fazer tudo bem na vida e no momento certo não conseguir o êxito e rememora as lesões que o afectaram em várias fases da carreira, designadamente nos Jogos Olímpicos da Atenas em 2004 e como os jornais noticiaram o facto, como tendo defraudado a expectativas dos portugueses.

 

Nuno Delgado conseguiu lidar com essa situação apesar de ter sofrido bastante. Com o apoio da família e dos muitos amigos que o aguardavam no Aeroporto, de regresso de Atenas, sentiu uma alma nova e reorganizou os seus objectivos: formar os jovens atletas para a vida.

 

Com grande simplicidade, sabedoria e sempre um sorriso que contagiou todos, Nuno Delgado terminou dizendo que todos temos o direito de errar desde que reconheçamos o erro e que para se ser um lutador de sucesso temos de ter a humildade de aceitar a derrota. Temos de ter o tal espírito grande para superar as dificuldades. Uma verdade que achei sábia foi quando Nuno afirmou que A família é também um objectivo e terminou a sua participação interactiva com o sábio ditado japonês:  

 

Só se pode ajudar quem quer ser ajudado.

 

 

 

Carlota de Barros

Lisboa, 7 de Novembro de 2010

publicado por Beija-Flor às 09:42
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